Iniciativa de Sensibilização contra tourada cómica em Barcelos
A ANDO Portugal repudia veementemente qualquer ato de discriminação social e/ou desrespeito pela dignidade humana.
Não será possível mudar a forma como se vê e compreende as pessoas com displasia óssea se continuarem a ser usados termos depreciativos e eventos desta natureza que infligem dor, vergonha e exclusão social a pessoas e famílias e têm um efeito degradante na sociedade.
Para avançar e fazer cair os estereótipos e estigmas sociais, valorizando todas as pessoas (incluindo aquelas com displasia óssea) como membros integrantes da sociedade, com pleno direito de respeito e valor, é necessário trabalhar juntos pela mudança!
Recentemente, associados e apoiantes da ANDO uniram-se em torno de uma iniciativa de sensibilização junto da autarquia de Barcelos que culminou com o envio de uma comunicação intitulada "VAMOS PARAR JÁ com OFENSAS à integridade física e DISCRIMINAÇÃO social - "Tourada cómica" que aqui transcrevemos:
Senhor Dr. Mário Lopes,
Presidente da Câmara Municipal de Barcelos
Sou associado/apoiante da ANDO Portugal, a Associação Nacional de Displasias Ósseas. Tivemos conhecimento através de notícias em jornais digitais que na freguesia de Abade de Neiva, Barcelos, está previsto acontecer uma "tourada cómica", no dia 16 de junho 2024, já autorizada/com licença da Câmara Municipal de Barcelos.
Senhor Presidente,
Não há "anões". Há Pessoas!
São pessoas que nasceram com uma displasia óssea. As displasias ósseas são um grupo de mais de 700 condições ósseas raras, nas quais há alterações profundas do esqueleto, sendo que a maioria ocorre muito baixa estatura e diversas patologias associadas.
As pessoas que nascem com uma displasia óssea não são objetos para divertir. São Pessoas que vivem com uma deficiência de natureza motora. À maioria das pessoas com displasia óssea em Portugal é-lhes reconhecida uma percentagem de incapacidade acima dos 70%, e para toda a vida.
Todos os anos nascem em Portugal entre 4 a 10 bebés com displasia óssea. Existirão cerca de 1500 pessoas em Portugal e 350.000 em todo o mundo. Há 9 anos que a ANDO, trabalha para a inclusão, valorização social e não discriminação de pessoas com displasia óssea na escola, no trabalho, na sociedade. Estas situações representam enormes retrocessos neste trabalho social.
Senhor Presidente,
Vivemos no século 21. Não no século 15.
Se esta notícia divulgada pelo Público na secção "Deficiência" sobre a tourada cómica, fosse com pessoas com outra condição/doença crónica (como leucemia ou trissomia 21), tal seria intolerável!
Portugal seria escrutinado como país abominável para a natureza humana. Não se pode permitir que tal aconteça com pessoas com acondroplasia. Porque não são "pessoas de segunda". São Pessoas!!! Vamos PARAR de rir e gozar com as pessoas com displasia óssea.
As pessoas com displasia óssea têm os mesmo direitos sociais que todos vós. Nenhuma das pessoas com displasia óssea que participou nestas touradas, faz aquilo porque "sempre foi a profissão de sonho". Foi alvo de discriminação e continua a sê-lo para ganhar uns euros. Mas enquanto uns ganham uns euros, toda uma comunidade de pessoas que vive com uma displasia óssea é tremendamente afetada.
Em Espanha, país com enorme tradição tauromáquica, foram proibidas estas sessões cómicas. A Ley 11/2023, de 8 de mayo diz:
"Disposición final quinta. Modificación del Texto Refundido de la Ley General de Derechos de las Personas con Discapacidad y de su Inclusión Social, aprobado por Real Decreto Legislativo 1/2013, de 29 de noviembre, para establecer la no discriminación de las personas con discapacidad en espectáculos públicos y actividades recreativas.
«Disposición adicional decimotercera. No discriminación de personas con discapacidad en espectáculos públicos y actividades recreativas.
1. Las personas con discapacidad participarán en los espectáculos públicos y en las actividades recreativas, comprendidos los taurinos, sin discriminaciones ni exclusiones que lesionen su derecho a ser incluidas plenamente en la comunidad.
2. Quedan prohibidos los espectáculos o actividades recreativas en que se use a personas con discapacidad o esta circunstancia para suscitar la burla, la mofa o la irrisión del público de modo contrario al respeto debido a la dignidad humana.
3. Las administraciones públicas, en el ámbito de sus respectivas competencias, promoverán políticas, estrategias y acciones públicas, en cooperación con las organizaciones representativas de este sector social, para que las personas con discapacidad que laboralmente se han desempeñado en espectáculos y actividades a las que se refiere el apartado 2 de esta disposición puedan transitar e incorporarse a ocupaciones regulares.»
Vamos evoluir e PARAR JÁ e de uma vez com ofensas às pessoas e às famílias de pessoas com displasia óssea. Por favor, retire já a autorização desta "tourada cómica".
De seguida, e para inspiração de respostas futuras, o nosso associado e membro da Assembleia Geral da ANDO, João Gonçalo, enviou o seguinte e-mail à Câmara Municipal de Barcelos:
"Num país gravemente deficitário em infraestruturas inclusivas, desafiamo-lo, ao invés de acolher e promover eventos que não abonam a favor da imagem de Barcelos, a trabalhar para um município acessível a todos, independentemente da sua limitação física, e um exemplo a nível nacional no que diz respeito a acessibilidade e respeito pela dignidade dos munícipes e das pessoas que visitam a cidade, sem exceção.
Nesse tipo de iniciativa contará com a nossa colaboração e certamente com o apoio por parte dos barcelenses, que terão (mais) um motivo de orgulho na sua cidade."
João Gonçalo