Dor Pediátrica

A gestão da dor pediátrica pode ser complexa, com vários desafios como:

  • A avaliação da dor em bebés e crianças pré-verbais ou com alterações cognitivas é difícil e indireta. Poderão ter de ser feitas avaliações fisiológicas e comportamentais como substitutos para a descrição individual da dor. Infelizmente, estes parâmetros são muitas vezes inespecíficos. O tratamento da dor nestas crianças deve ter em conta várias hipóteses.

  • Não existe um grande incentivo económico para tratar a dor pediátrica. Isto resulta em menos opções farmacológicas para crianças.

  • Há um debate contínuo sobre os efeitos a longo prazo das experiências da dor e do seu tratamento no desenvolvimento inicial da criança.

  • As restrições éticas na investigação farmacológica em pediatria limitam os dados disponíveis sobre a eficácia dos medicamentos e a toxicologia em lactentes e crianças.

 

Créditos: Angel Xing

 

A promoção da educação sobre a dor junto das comunidades médica e de enfermagem tem vindo a criar uma melhoria dramática no conhecimento, atitude e tratamento da dor pediátrica. A gestão da dor em crianças é reconhecida como uma necessidade humanitária e ética. Uma boa analgesia* pode potencialmente vir a reduzir a incapacidade e o sofrimento na vida adulta.

*analgesia consite na abolição da sensibilidade à dor sem perda das outras sensibilidades, ou seja, os medicamentos usados têm o objetivo apenas de aliviar ou minimizar a dor, provocando a ausência ou o amortecimento desta sem perda de consciência. Difere da anestesia, uma vez que esta bloqueia a sensação de dor durante um período de tempo específico, fazendo com que o cérebro não reaja à dor durante, por exemplo, um procedimento cirúrgico.

 

Ferramentas para medição da dor em bebés e crianças

Escala do choro

 

0

1

2

Choro

Não

Sim

Inconsolável

Humor

normal

Caretas

Grunhidos

Sono

Dorme normalmente

Acorda fequentemente

Não dorme

Tabela 1. Escala de choro. Adaptado de Krechel SW, Bildner J. Paediatric Anaesthesia. 1995

 

FLACC ferramenta de avaliação da dor comportamental

  0 2

 Face

 Nenhuma expressão em particular ou sorriso

Ocasional careta ou franzir do sobrolho; retraído/desinteressado 

Trepidação frequente/ constante do queixo (beicinho); mandíbula cerrada

 Pernas

Posição normal ou relaxada 

Desconfortável, inquieto ou tenso 

Pontapés e pernas levantadas 

 Atividade

Deitado em silêncio, posição normal, move-se facilmente 

Contorcido, desloca-se para trás e para a frente, tenso 

Arqueado, rígido; movimentos repentinos 

 Choro

Sem choro 

Gemidos ou lamúrias; queixas ocasionais 

Frequente com gritos/soluços; queixas frequentes 

 Consolabilidade

Contente ou relaxado 

Reage ao toque, carinho; distraível

Difícil de consolar/confortar 

Tabela 2. Escala FLACC (do Inglês: face, legs, activity, cry, consolability). Adaptado de: Malviya S. et al. Ped Anesth 2006

 

 

FLACC ferramenta de avaliação da dor comportamental para crianças portadoras de deficiência cognitiva

  0 2

 Face

 Nenhuma expressão em particular ou sorriso

Ocasional careta ou franzir do sobrolho; retraída/desinteressada. Parece triste ou preocupada

Trepidação frequente/ constante do queixo (beicinho); mandíbula cerrada. Rosto angustiado; expressão de susto ou pânico

 Pernas

Posição normal ou relaxada. Tom e movimento habitual

Desconfortável, inquieto ou tenso. Tremores ocasionais

Pontapés e pernas levantadas. Aumento acentuado da espasticidade, tremores constantes ou sacudidelas

 Atividade

Deitada em silêncio, posição normal, move-se facilmente. Respiração rítmica e regular

Contorcida, desloca-se para trás e para a frente, tensa. Agitada, cabeça para trás e para a frente, agressiva; respiração limitada, suspiros.

Arqueada, rígido; movimentos repentinos. Agitação severa; bater a cabeça; tremores; respiração ofegante e não profunda

 Choro

Sem choro 

Gemidos ou lamúrias; queixas ocasionais. Gritos e grunhidos ocasionais

Frequente com gritos/soluços; queixas frequentes. Grunhido constante e gritos

 Consolabilidade

Contente ou relaxada

Reage ao toque, carinho; distraível

Difícil de consolar/confortar. Empurra o prestador de cuidados, resiste aos cuidados e conforto

Tabela 3. Escala FLACC revista para crianças com deficiência cognitiva (a bold). Adaptado de: Malviya S. et al. Ped Anesth 2006

 

Ainda sobre a dor pediátrica, em fase de cuidados intensivos, embora com enorme abrangência para além deste enquadramento, apresentamos o livro digital com edição portuguesa pela Dra. Clara Abadesso, palestrante no 4º Encontro ANDO, em setembro de 2020.

 

 

A promoção do conhecimento dos pais sobre a dor permite o seu envolvimento
mais ativo na abordagem da dor e a criação de uma parceria fundamental com os
profissionais de saúde nesta missão de proporcionar os melhores cuidados.

 

Veja a palestra apresentada pela Dra. Clara Abadesso, Pediatria, Sub-especialista em Cuidados Intensivos Pediátricos e Coordenadora do Grupo de Dor Pediátrica da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor:

PARTILHAR: