Pseudoacondroplasia

A Pseudoacondroplasia é uma displasia óssea cuja prevalência exata à nascença é desconhecida, mas que se estima ser de 1/600001. Apresenta baixa estatura desproporcionada e osteoartrite precoce e uma marcada flacidez nos dedos, pulsos, cotovelos e joelhos.

O que é a Pseudoacondroplasia1,2?

Como na grande maioria das displasias ósseas, não há alteração da capacidade cognitiva. É frequente a presença de alterações da marcha, identificadas quando a criança começa a andar. Tipicamente, a taxa de crescimento fica abaixo da curva de crescimento padrão pelos dois anos de idade, resultando numa forma moderadamente severa de desproporção no tamanho dos membros superiores. É frequente a presença de dor a partir da infância, particularmente nas articulações das extremidades inferiores. A degeneração das articulações é progressiva e cerca de 50% dos indivíduos com esta displasia requerem cirurgia da anca.

O que causa a Pseudoacondroplasia1?

A pseudoacondroplasia é causada por uma mutação no gene da proteína de matriz oligomérica da cartilagem (COMP)4 e é transmitida num padrão autossómico dominante: 30% dos casos provêm de um progenitor com mutação que transmite a condição, enquanto que 70% ocorrem como mutação de novo, ou seja, sem historial familiar (ver imagem abaixo).

hereditariedade

Fig. 1. Hereditariedade: a pseudoacondroplasia passa de pais para filhos. No entanto, também pode ocorrer como resultado de uma mutação de novo.

Características Clínicas e Radiológicas1,2,3

Características clínicas

  • Comprimento normal à nascença e face sem alterações

  • Marcha bamboleante, identificada na aquisição da marcha

  • Diminuição da taxa de crescimento, verificada pelos dois anos de idade, resultando na desproporção no tamanho dos membros curtos

  • Braquidactilia

  • Laxidão ligamentar e hiperelasticidade articular, particularmente nas mãos, joelhos e tornozelos

  • Alongamento limitado dos cotovelos e ancas

  • Genu valgo, genu varus e deformidade dos membros inferiores

  • Escoliose e lordose pode ser observada na infância e persiste na vida adulta em cerca de 50% dos casos

  • Dor surge na infância, particularmente nas grandes articulações das extremidades inferiores

  • Instabilidade da coluna pode ocorrer, não sendo frequente haver necessidade de intervenção cirúrgica

  • A osteoartrose das extremidades superiores e da coluna vertebral pode ocorrer no início da vida adulta

  • Doença articular degenerativa progressiva e cerca de 50% das pessoas requerem cirurgia de substituição da articulação da anca.


Fig.2. Ilustração das característica. Créditos: F. Netter

 

Características radiográficas

  • Ossificação epifisária retardada com epífises e metáfises irregulares dos ossos longos

  • Epífises femorais capitais pequenas, pescoços femorais curtos, e bordas metafisárias irregulares e reduzidas

  • Pélvis pequena e acetábulos mal modelados com margens irregulares escleróticas, especialmente em pessoas mais velhas

  • Braquidactilia significativa: metacarpos pequenos, falanges com epífises reduzidas ou em forma de cone, metáfises irregulares e ossos pequenos e irregulares do carpo

  • Crista anterior dos corpos vertebrais diminuida. Este aspeto distintivo das vértebras melhora com a idade, salientando a importância de se obter radiografias na infância para permitir o diagnóstico.


Fig.3. À esquerda: radiografia que mostra crista anterior nos corpos vertebrais, irregularidades nos ossos longos, cabeça femoral e acetábulo em criança com 2 anos. À direita, carpos e metacarpos encurtados e irregulares, falanges com epífises em forma de cone, em criança com 4 anos; Fonte: Casas-Alba D et al., Seudoacondroplasia: descripción de un caso de novo y otro familiar. An Pediatr (Barc). 2018;89:60–61.

Diagnóstico2,3

O diagnóstico pode ser feito com base em resultados clínicos e radiografias. No entanto, caso as características clínicas sejam inconclusivas, os testes genéticos moleculares com identificação de uma variante patogénica heterozigótica na COMP, permitem chegar ao diagnóstico.

Quando existir suspeita de displasia óssea, o diagnóstico pré-natal é realizado por amostragem de vilosidades coriónicas da placenta ou por colheita de líquido amniótico, por amniocentese, independentemente da identificação da mutação COMP ter sido identificada num membro da família.

 

Testes Genéticos:
A identificação de uma variante patogénica heterozigótica em COMP através de testes genéticos moleculares estabelece o diagnóstico se as características clínicas forem inconclusivas. O recurso a testes genéticos moleculares pode incluir um teste de um único gene ou a utilização de um painel multi-gene:

  • Testes monogénicos para análise sequencial do COMP

  • Painel multi-gene que inclua a COMP e outros genes de interesse (ver Diagnóstico Diferencial). Deve ser escolhido um painel que seja mais suscetível de identificar a causa genética da pseudoacondroplasia, limitando a identificação de variantes de significado incerto e variantes patogénicas nos genes que não explicam o fenótipo subjacente.

 

Diagnóstico diferencial:

 

Aconselhamento genético:
O aconselhamento genético é recomendado para ajudar as famílias a compreender a genética e a história natural da pseudoacondroplasia e para fornecer apoio psicossocial.

Efetuar o diagnóstico de uma doença genética ou rara pode constituir muitas vezes um desafio. Os profissionais de saúde normalmente analisam o historial médico e os sintomas, realizam exames físicos e testes laboratoriais, a fim de o alcançar.

Tratamento2

Não existe cura para a pseudoacondroplasia. Os tratamentos são dirigidos para os sintomas específicos à medida que estes se manifestam e, normalmente, requerem esforços coordenados de uma equipa multidisciplinar. Esta equipa inclui geneticistas, pediatras, especialistas no tratamento de doenças esqueléticas (cirurgiões ortopédicos), neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde que deverão acompanhar e assegurar os tratamentos necessários.

A gestão das patologias e vários problemas de físicos derivados da pseudoacondroplasia incluem (não se limitando) a:

- Analgésicos, para controlo da dor e desconforto articular
- Osteotomia para limitar as deformidades dos membros inferiores
- Cirurgia para a controlo da escoliose.

A prevenção e controlo de algumas destas alterações inclui:

- Fisioterapia para preservar a flexibilidade articular
- Exames regulares de deteção de doenças degenerativas das articulações e manifestações neurológicas (particularmente a compressão da medula espinal).

O acompanhamento psicoemocional relacionado com a dor, deformidades físicas, e baixa estatura é recomendado para para as pessoas com pseudoacondroplasia assim como para as suas famílias.

 

Tratamentos em Investigação

O medicamento Resveratrol está atualmente em investigação no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, EUA, num ensaio clínico de fase 2 com conclusão prevista para março de 2021. Este estudo pretende testar a eficácia deste antioxidante no alívio da dor em adultos com pseudoacondroplasia. Foi demonstrado anteriormente, em estudos pré-clínicos com animais, que este medicamento diminui a inflamação, restabelece algum crescimento ósseo e, possivelmente, diminui a dor.

Alguns alimentos ricos em antioxidantes como as uvas pretas5 (na casca), os mirtilos (principalmente a variedade europeira), arandos6, amendoins7, pistácios e  cacau8, constituem uma boa fonte natural de resveratrol.

Bibliografia
  • 1. Horton WA, et al. Growth curves for height for diastrophic dysplasia, spondyloepiphyseal dysplasia congenita, and pseudoachondroplasia. Am J Dis Child. 1982;136:316–9.
  • 2. McKeand J, et al. Natural history study of pseudoachondroplasia. Am J Med Genet. 1996;63:406–10
  • 3. Hecht JT, et al. Mutations in exon 17B of cartilage oligomeric matrix protein (COMP) cause pseudoachondroplasia. Nat Genet. 1995;10:325–9
  • 4. Burns J, et al. Plant foods and herbal sources of resveratrol. J Agric Food Chem. 2002;50(11):3337-3340
  • 5. Rimando AM, et al. Resveratrol, pterostilbene, and piceatannol in vaccinium berries. J Agric Food Chem.2004;52(15):4713-4719
  • 6. Sanders TH, et al. Occurrence of resveratrol in edible peanuts. J Agric Food Chem. 2000;48(4):1243-1246
  • 7. Hurst WJ, et al. Survey of the trans-resveratrol and trans-piceid content of cocoa-containing and chocolate products. J Agric Food Chem. 2008;56(18):8374-8378
Outras fontes:

Rareiseases.org
medlineplus.gov

 

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