Hipocondroplasia

A hipocondroplasia é uma displasia óssea de transmissão autossómica dominante caracterizada por afectar a conversão da cartilagem em osso (um processo chamado ossificação), particularmente nos ossos longos dos braços e pernas. Esta condição mostra alguma semelhança com a acondroplasia, mas apresenta caracterísicas menos acentuadas, com podendo ser distinguida por avaliação clínica e radiográfica. A sua incidência estimada é de 1:50.000 nascimentos, mas a prevalência exacta é desconhecida1.


Causa

A hipocondroplasia pode resultar de mutações específicas de um gene conhecido como receptor-3 do factor de crescimento dos fibroblastos" (FGFR3). No entanto, nem todos as pessoas com esta displasia têm mutações no gene FGFR3, o que sugere que existe heterogeneidade genética2Mutações diferentes do mesmo gene podem causar acondroplasia, o que indica que estas duas condições são alterações alélicas3.

 

Características Clínicas4,5

Comuns:

- Baixa estatura (muitas vezes, não é identificada até à primeira infância ou tão tarde como na idade adulta)
- Constituição robusta
- Segmentos proximais e médios das extremidades diminuídos (respectivamente, rizomelia e mesomelia)
- Mãos e pés largos e curtos com braquidactilia
- Ligeiro laxismo articular generalizado
- Macrocefalia com fácies normais
- Limitação da extensão do cotovelo

Pouco frequentes:

- Escoliose
- Pernas arqueadas (verdadeiro varum)
- Lordose lombar com abdómen protuberante
- Osteoartrose do conjunto de adultos
- Acantosis nigricans
- Epilepsia do lóbulo temporal

 

Características radiológicas4,5

Comuns:

- Encurtamento de ossos longos com ligeira metafisária
- Estreitamento das distâncias interpediculares lombares inferiores
- Pescoço femoral curto e largo
- Ilia quadrada e encurtada

Pouco frequentes:

- Elongação da fíbula distal
- Encurtamento (anterior-posterior) dos pediculos lombares
- Concavidade dorsal dos corpos vertebrais lombares
- Encurtamento da ulna distal
- Estilóide ulnar longo (apenas em adultos)
- Proeminência das inserções musculares em ossos longos
- Deformidade "chevron" superficial da metáfise distal do fémur
- Baixa articulação do sacro na pélvis com uma orientação horizontal
- Teto acetabular achatado

As características esqueléticas comuns à acondroplasia como a estenose espinal, curvatura tibial, apneia obstrutiva ocorrem menos frequentemente na hipocondroplasia4. No entanto, as características tornam-se mais proeminentes ao longo do tempo.


Figura 1. O raio-x da coluna vertebral mostra pedículos curtos com uma ligeira inclinação posterior das vértebras lombares superiores e ausência de distâncias interpediculares na vista AP da coluna. Fonte: Latifa Women and Children Hospital

 

Diagnóstico6

O diagnóstico da hipocondroplasia com base em exames clínicos e radiológicos é muitas vezes incerto, por várias razões:

- Nenhuma característica radiológica ou clínica é exclusiva da hipocondroplasia
- A manifestação de muitas das características de diagnóstico estabelecidas nos indivíduos afectados é variável
- Existe heterogeneidade da mutação

No entanto, é evidente que um levantamento radiográfico completo incluindo crânio, pélvis, coluna vertebral antero-posterior e lateral, pernas, braços e mãos é absolutamente necessário para fazer um diagnóstico clínico de hipocondroplasia.

Em alternativa, podem ser utilizados testes genéticos moleculares. Uma combinação de testes genéticos direccionados (testes de um único gene, painel multigene) e testes genómicos abrangentes, dependendo do fenótipo.

 

Diagnóstico Diferencial

  • Acondroplasia (também causada por variantes do gene FGFR3)

  • Formas suaves de nanismo mesomélico

  • Formas suaves de displasias espondiloepifisárias-metafisárias

  • Discondrosteose de Léri-Weill

  • Pseudohipoparatiroidismo

  • Pseudopseudohipoparatiroidismo.

 

Tratamento

O tratamento da hipocondroplasia é direccionado para os sintomas específicos que se manifestam em cada indivíduo. Tal tratamento pode exigir esforços coordenados de uma equipa de profissionais médicos, tais como pediatras, médicos que diagnosticam e tratam alterações do esqueleto, articulações, músculos e tecidos relacionados (ortopedistas), cirurgiões, fisioterapeutas, e/ou outros profissionais de saúde. Várias técnicas ortopédicas, incluindo a cirurgia, podem ser recomendadas para ajudar a tratar ou corrigir certas anomalias esqueléticas associadas.

No entanto, a gestão desta condição em crianças geralmente não difere significativamente da de crianças com estatura média, excepto para questões de aconselhamento genético e para lidar com as preocupações dos pais sobre a baixa estatura. Por vezes, a gestão da baixa estatura em hipocondroplasia é influenciada pelas expectativas e preocupações dos pais e é importante responder a estas dúvidas a preocupações.

 

Tratamentos em Investigação

Os ensaios com hormonas de crescimento em hipocondroplasia têm mostrado resultados contraditórios7,8. As diferenças nas respostas individuais podem estar relacionadas com a heterogeneidade genética e indicar uma necessidade de estratificação dos indivíduos com hipocondroplasia no que diz respeito à sua etiologia genética. Existem, no entanto, dados que sugerem que as crianças com hipocondroplasia podem ter uma maior resposta à terapia com hormonas de crescimento do que aquelas com acondroplasia9 e estudos que demonstraram alteração no crescimento de indivíduos com hipocondroplasia10.

 

Saiba mais sobre:

 

 

Referências

1. Walker, B. A., et al. Hypochondroplasia. Am. J. Dis. Child. 122: 95-104, 1971.
2. Rousseau, F., et al. Clinical and genetic heterogeneity of hypochondroplasia. J. Med. Genet. 33: 749-752, 1996.
3. McKusick, V. A., et al. Observations suggesting allelism of the achondroplasia and hypochondroplasia genes. J. Med. Genet. 10: 11-16, 1973.
4. Prinster, C., et al. Comparison of clinical-radiological and molecular findings in hypochondroplasia. Am. J. Med. Genet. 75: 109-112, 1998.
5. Hall, B. D., Spranger, J. Hypochondroplasia: clinical and radiological aspects in 39 cases. Radiology 133: 95-100, 1979.
6. Appan, S., et al. Growth and growth hormone therapy in hypochondroplasia. Acta Paediat. Scand. 79: 796-803, 1990.
7. Mullis PE, et al. Growth characteristics and response to growth hormone therapy in patients with hypochondroplasia: genetic linkage of the insulin-like growth factor I gene at chromosome 12q23 to the disease in a subgroup of these patients. Clin Endocrinol (Oxf). 1991 Apr;34(4):265-74.
8. Bridges NA, Brook CG. Progress report: growth hormone in skeletal dysplasia. Horm Res. 1994;42(4-5):231-4.
9. Tanaka N, et al. The comparison of the effects of short-term growth hormone treatment in patients with achondroplasia and with hypochondroplasia. Endocr J. 2003 Feb;50(1):69-75.
10. Pinto G, et al. Efficacy and safety of growth hormone in the treatment of children with hypochondroplasia (HCH): comparison with a historical cohort of untreated children with HCH. Hormone Res Paediatr. 2012;78:193.

PARTILHAR: